segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

KonfiSon no Blogue


Uma pequena homenagem ao Kaká Barboza.

Na verdade, o Kaká Barboza foi o primeiro autor cabo-verdiano que conheci a recitar um poema em crioulo num programa qualquer ou no lançamento de um livro qualquer. Eu era um miúdo na altura, não lembro dos pormenores mas foi o suficiente para eu começar a interessar por escritas em crioulo. Na altura nunca passou-me pela cabeça um dia ter um livro dele nas minhas mãos.

Passaram os anos, na Residência Estudantil Madre Teresa de Calcutá(REMTC), ASA, conheci os rapazes da ilha do Maio que adoravam tocar a guitarra. Um grande abraço para ao Delvany, vulgo Di D'Yayuka! Com o Gerson de Cidade Velha, onde, além dos acordes que comecei a aprender, li o "Vinti Xintidu letradu na kriolu" do Kaká Barboza e o "Ali bem tempu di Alibabá", salvo erro, do Dani Spínola(O título pode estar mal escrito porque estou a citá-lo de cor). Desses livros, com a ajuda do meu colega de quarto, Sancy, transcrevi uns poemas que até hoje andam comigo. Citava-os em todos os becos e cantos onde fazíamos actividades culturais. Também trouxe do Liceu de São Domingos o famoso poema "Barabás". 

Em ASA, conheci a minha ex-namorada, também uma apaixonada por essas coisas do crioulo. Um dia fomos à uma feira de livros organizada pelo Centro Cultural Português, onde comprei o "Son di ViraSon" e, mais tarde, recebi de presente o "KONFISON NA FINATA". Nas viagens entre Cabo Verde e Portugal, só consegui recuperar esses livros do Kaká Barboza no verão de 2010.

Lembro-me daquelas chatices que tivemos no 10ºano com "Os Lusíadas" do Camões; as maravilhas que tivemos ao estudar a Literatura Cabo-verdeana; as lágrimas que deitei fora no fim da leitura do "contra Mar e Vento"; livros que ficaram comigo para sempre, livros esses como "Chuva Braba", "O Galo que cantou na Baía", "Ilha Fantástica", "O Escravo", "Chiquinho" e por aí fora.

Na verdade, queria escrever uma espécie de crónica da minha ligação com o crioulo e uma simples homenagem ao autor do "Vinti xintidu letradu na kriolu", "Son di ViraSon" e "Konfison na FiNata" mas a emoção nestas coisas obriga-nos a desviar do essencial para escrever coisa que, se calhar, não tem nada a ver. Aliás, o Kaká Barboza merece, a meu ver, uma homenagem melhor do que esta minha crónica fatela  e um admirador mais corajoso para, como diria o Allen Halloween, "ir até o fim da linha". 

Encontrei com o Kaká Barbosa várias vezes em ASA. Nunca o disse alguma coisa. A última vez que cruzei com ele foi no funeral do nosso saudoso Ildo Lobo. Eu era adolescente, apenas segui os movimentos dos seus dedos enquanto mudava de acordes no seu violão. Fui ter com o Fanny do Anu Nobu que estava ao lado dele, perguntei-lhe como estavam os meus amigos em São Domingos. Depois daquela escuridão que se fez na última morada do Ildo Lobo em pleno funeral(lá está a Electra mais uma vez) voltei para à REMTC e acordei um ano depois na Invicta. 

Daqui deste meu canto, fica uma simples mas a sincera homenagem ao Carlos Alberto Lopes Barbosa "Kaká Barboza" que, segundo a sua própria konfison, nasceu no dia 1 de Maio de 1947, na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente. Aquando a erupção vulcânica na ilha do Fogo, ele estava em Assomada, Santa Catarina, ilha de Santiago. Ele é músico, compositor e poeta. Publicou o "Vinti Xintidu Letradu na Krioulu", "Son di ViraSon" em língua materna e português. 

Na Pasu D'Azágua
Transcrito do livro Son di VirSon pág.43 da Spleen-Edições de Outubro de 1996.

Na pasu d'azágua
óki bu odja pulígnu nha korpu
na ladera ta rosa padja
nkurvadu riba d'inxada
suadu
modjadu
ta pinga suór
ta modja txon ki ta suste-m

Bu pode fla
m'é Kauberdi na nha mô
sima bandera-l nha speransa
spetadu n'alma nha deseju bibu
na simitériu na petu

Imagem: Son de ViraSon.

2 comentários:

  1. Meu Caro

    Obrigado pelas referencias amigas feitas a mim e à minha escrita que em livro guardas com carinho. Lembro-me sim de ti por perto, aliás os bons amigos "aproxegam-se" mesmo que a implacável lonjura teima em adelgaçar os laços que os une.
    Leio com frequencia os teus artigos e comentários blogoditos e esta de me quereres "Omi na giar" fez-me calar grato num abraço bem verdiano e sincero. Obrigado bróda.
    Kaka Barboza

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  2. Olá Kaká Barboza,

    Bem-vindo! Obrigado digo eu, se poderes manda vir mais poemas que já li o Son di ViraSon pela 5ª vez.

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